Confesso
que sou suspeito para falar sobre os livros de Gonçalo M. Tavares, fã
incondicional que sou de seu trabalho literário e um leitor ávido de seus
livros, “Uma menina está perdida no seu século à procura do pai” é mais um
dentre seus maravilhosos trabalhos que terminei de ler essa semana, magnífico.
O
livro tem como pano de fundo a segunda guerra mundial e suas consequências à
humanidade, ele retrata também o isolamento, a desconfiança, a solidão mesmo estando
em companhia, a perda, as manias dos personagens para não enlouquecerem ao ver o
tempo passar lentamente diante de um mundo hostil, inóspito e decadente.
O
autor nos mostra os meios pelos quais os homens utilizam para manter viva a
história da humanidade e os tais métodos utilizados para repassar esses
conhecimentos adiante sem que eles se percam no meio do caminho. E os cuidados
são tantos que o homem chega a dividir tais conhecimentos em sete “peças” cruciais
espalhadas estrategicamente pelos quatro cantos do mundo como uma sociedade
secreta.
Sob
os escombros da segunda guerra mundial está uma menina com necessidades
especiais, na verdade com trissomia 21 cujo termo utilizado no livro, ou seja,
uma menina com síndrome de down à procura do pai num cenário fúnebre, funesto,
cinzento e completamente em ruínas. Mas ela não está sozinha...
Gonçalo
Tavares me surpreende a cada livro novo seu, pois nesse adorei a analogia que o
autor utilizou para a trissomia 21 num estado onde todos se encontram durante a
guerra, ou seja, vulnerável, instável, perdido, limitado, sozinho, dependentes
um do outro independentemente da idade, do tamanho ou da classe social. Somos
todos interdependentes. Cuja menina é guiada pelo personagem, Marius, este
também a tem como uma âncora para onde quer que vá, e aonde vai lá está ele agarrado
à mão dela e ela a dele em perfeita companhia um para o outro e etc. e etc.
Como
todos os finais surpreendentes de seus livros, esse não seria tão diferente, o
autor nos leva às ruas desertas, a lugares inóspitos, às pessoas excêntricas, à
esperança que adentra o livro do inicio ao fim, às ruas ruidosas e a tal
liberdade tão almejada pelos homens sedentos de dias melhores. Gonçalo em sua
maestria “literalmente” brinca com as palavras ao relatar uma das tragédias da
humanidade ou um dia tão incomuns ou mesmo uma rotina enfadonha, cansativa numa
existência estagnada.
“Uma
menina está perdida no seu século à procura do pai” nos mostra o quanto somos fortes
e frágeis, dóceis e horrendos, generosos e mesquinhos, amáveis e detestáveis, altruístas
e egoístas, perenes e efêmeros, ambiciosos ou medíocres!
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